quarta-feira, 30 de setembro de 2009

TOC TOC- 2008- TEATRO- em São Paulo

Os diferentes significados de uma palavra - por Riba Carlovich personagem
Desempregado fiquei com o cu na mão. Como nunca fui um lambe-cu e nem nasci com o cu virado pra lua, sabia que arrumar um novo emprego ia ser um cu. E nem estou falando desses empregos onde se pode encher o cu de dinheiro sem ter que trabalhar até o cu fazer bico. Sem ter outra opção, resolvi bancar o cu de ferro: recortei alguns anuncios do jornal, saí de casa no cu da madrugada e fui à luta. Na primeira empresa que visitei, o trabalho era semi-escravo e fui obrigado a tirar o cu da reta. Na segunda, o trabalho era totalmente escravo, e tive que tirar o cu da seringa. A terceira empresa ficava no cu do mundo, mas a vaga era de fxineiro e não havia como ser recusado. Mesmo assim fui para a entrevista tentando não contar com o ovo no cu da galinha. De saída o entrevistador perguntou se eu não me importava em trabalhar armado. " faxineiro armado ", perguntei - O que tem a ver o cu com as calças ? E sem esperar pela resposta fui embora rapidinho. Afinal de contas, quem tem cu tem medo. Agora só restava um anuncio. O problema é que a empresa ficava no cu do Judas. A viagem durou duas horas e já foi um cu pra conferir. Quando cheguei descobri que se tratava de uma produtora de filmes pornográficos. Fui recebido, e sem a menos cerimônia perguntaram se eu já tinha dado o cu. Respondi que não, mas que podia aprender. Não teve jeito. A verdade é que hoje em dia até pra tomar no cu é preciso ter experiência. E só quem não entende isso é a minha namorada, que vive me chamando de cuzão e acha que eu não arrumo emprego porque fico fazendo cu doce. Riba Carlovich.

TEATRO- (2008)- (Sampa)
TOC TOC aborda de maneira sagaz e com humor ácido uma doença que atinge parte da população mundial e sua trama se passa na sala de espera do consultório do Doutor Stern, famoso pelo sua tratamento de pacientes com TOC e por seus pacientes nunca necessitarem de uma segunda sessão.
Lá, seis pacientes se encontram, com hora marcada para uma consulta: Branca (Márcia Cabrita) tem mania de limpeza, Maria (Ângela Barros), religiosa, acha sempre que sempre esqueceu tudo aberto, Lili (Flávia Garrafa), tem o hábito de repetição, Bob (Sérgio Guizé) é fanático por simetria, Vicente (Marat Descartes) não consegue parar de fazer contas e Fred (Riba Carlovich) sofre de uma síndrome que o faz dizer palavras obscenas constantemente. Carô Parra interpreta a assistente do médico.
Dr. Stern se atrasa excessivamente devido a alguns imprevistos, levando os pacientes a se unirem numa terapia em grupo, que rende boas tiradas. A história é permeada de humor inteligente e a platéia consegue soltar grandes gargalhadas sem apelação.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Um tempo e tanto... Belchior

..desafinada..rindo...

Fui (sou) apaixonadíssima por suas músicas, os amigos dessa época, me criticavam, pessoal da Sociologia Política, éramos todos envolvidíssimos (hum!) (uma época e tanto), mas eu sempre me interessei por tudo, lia tudo que cai na mão, ouvia tudo também.
Lembro-me quando fomos ao apto de um amigo, o Renato, a idéia era morarmos todos juntos. E ali, no meio da sala, aquela figura incrível do Renato, tocando flauta "Mulheres de Atenas", a idéia vingou, um tempo bom, (nem tanto)....., ouvíamos Chico, Gil, Milton, Caetano... , mas só eu, Belchior.
Ficavam putos comigo, nunca liguei. Cantava junto, alto, desafinado e rindo.
E, só agora à noite ouvi, rapidamente, num jornal da TV sobre o desaparecimento. Chorei. Belchior desaparecido, triste... muito triste.

Desaparecimento era coisa daquela época

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Bodisattva- uma busca constante



Bodisattva é um termo do budismo que designa seres de sabedoria elevada, que seguem uma prática espiritual que visa a remover obstáculos e beneficiar todos os demais seres. A expressão significa, em tradução literal do sânscrito, "ser (sattva) de sabedoria (bodhi)".

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Repetidas imagens

lavar o olhar
fotografar idéias, imagens repetidas
intersecção dos planos
lusco-fusco das indecisões
sóis,
girassóis,
bois.

difere
o homem
difere
a vida

sóis,
girassóis,
bois.

Sussurro
trajetória efêmera
nau perdida

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A POESIA E O MITO DE CURA

Muitas vezes ficamos perplexos diante do que nos acontece na vida. Estamos sempre à pro-cura disto e daquilo e até, essencialmente, de nós mesmos. O que nos move na pro-cura é a Cura. Cura, do latim, assinala o Cuidado.
A Cura impulsiona todo nosso agir. Agir se diz em grego poiein, de onde nos vem poiesis, a essência do agir, a poesia. Poesia só é linguagem quando se torna verbo-ação-poiesis. Toda poesia nos advém a partir de Cura. É essa a fala do mito “Cura”.
A fala do mito é a linguagem do sagrado, por isso nele agem e falam deuses. O ser-humano (Entre-ser / Da-sein), a poesia e a linguagem pro-vêm da Cura. É o que nos narra o mito Cura. Ele nos foi assinalado por Higino, escravo egípcio de César Augusto, que morreu no ano 10 da nossa era. Eis a sua saga:
C U R A
"Certa vez, atravessando um rio, Cuidado (Cura) viu um pedaço de terra argilosa: cogitando, tomou um pedaço e começou a fingir/ficcionar (fingere). Enquanto deliberava sobre o que criara, interveio Júpiter [Zeus]. Cuidado (Cura) pediu que lhe desse espírito, o que ele fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado (Cura) quis dar-lhe nome a partir de si mesmo, Júpiter proibiu e dita que lhe deve ser dado o seu nome. Enquanto Cuidado (Cura) e Júpiter disputavam sobre o nome, surgiu também a Terra (Tellus), querendo dar o seu nome, uma vez que havia fornecido um pedaço de seu corpo. Os disputantes tomaram Saturno [Cronos/Tempo] como árbitro. Este tomou a seguinte decisão aparentemente eqüitativa:
"Tu, Júpiter, por teres dado o espírito, deves receber na morte o espírito, e tu, Terra, por teres dado o corpo, deves receber o corpo”. Como, porém, foi Cuidado (Cura) quem primeiro o fingiu/ficcionou (finxit), deverá pertencer-lhe enquanto ele viver. Como, no entanto, sobre o nome há controvérsia, chame-se Homem, pois foi feito de "humus" (Terra)".

Manuel Antônio de Castro Leciona nos Cursos de Pós-Graduação e orienta Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado no Programa de Ciência da Literatura, na Área de Poética, da Faculdade de Letras da UFRJ

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

“amam o que verdadeiramente não há”

Sermão do mandato, pregado na Capela Real de Lisboa em 1645,
in Sermões, v. III, padre Antonio Vieira.

...os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam, ou porque amam o que verdadeiramente não há.
Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima, e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos.
Cuidas que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade; cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas.
Logo os homens não amam o que cuidam.
Donde também se segue que amam o que verdadeiramente não há, porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina e não é, não o há no mundo.
do livro- "Desejo"-Companhia das Letras/ 1990-
organizador- Adauto Novaes-

domingo, 13 de setembro de 2009

O homem blindado

O homem blindado (...) não está aberto à visitação dos afetos ou da palavra. O blindado móvel em design estético é o homem moderno e ele é o ápice de um fechamento que o fecha inteiramente em si mesmo e sobre si mesmo e já não há espaço para a visitação do afeto ou par o jorro da língua, mas apenas para vivências autofabricadas e auto-afetadas”.

Certeza do Agora (2002)
Juliano Garcia Pessanha

"Eu não sou eu nem sou outro"

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

da série: "tenho um amigo que disse que eu":

não devia pensar que os homens sempre acham que as mulheres querem “dar” e que eles sempre querem “comer”, mas quem disse à ele que eu penso dessa forma, além do mais essa história de “comer” é relativa.
Não, não tem nada a ver com o Enstein, ainda que se possa pensar em termos de massa ,corpo, potência....
ele disse também que eu vejo problema em falar “relações sexuais”, que isso é típico das mulheres da minha idade, o que é que ele quis dizer com “mulheres da minha idade, será que ele pensa que há um padrão, simples assim, a idade determina tudo, seja você brasileira, angolana, nigeriana, canadense, paquistanesa.
Eu vou perder amizade com esse cara!
já a minha amiga disse que o falar “dar” e “comer” é próprio de um determinado grupo, feito nós metidas a cultas, intelectuais que discutem Foucault, Deleuze, Marx blá blá ,blá,....poesia, é toda moderna, contemporânea. Na juventude levantou bandeira de “caminhando e cantando a canção, somos todos... "
desconcordei na hora, nãnãninãna:
por quê, não se pode gostar do que dá prazer, alimenta, transforma?
E, além do mais, intelectual que se preza diz “trepar”. Ela quase enfartou diz que não consegue usar essa palavra: “trepar”, já tentou várias vezes.
Não, não, falar mesmo.
diz que sua boca começa a tremer sem controle, outro dia numa roda de amigos quase conseguiu, mas derrepente ruborizou e, não pensou duas vezes cascou um “trebien” e saiu a francesa, ninguém entendeu nada, agora anda pensando em falar “transar”, coisas de jovens, disse sorrindo pra mim.
desconcordei na hora, nãnañinãna, será que ela pensa que há um padrão....
já um amigo, raro amigo, diz que quando você encontra uma pessoa que olha no fundo de seus olhos e você olha fundo nos olhos dela e, isso transforma-se num só olhar para o mundo.
não precisa de nome algum, tudo já está nomeado de antemão.
Concordei na hora.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O que existe, os poetas fundam - Holderlin

Imagem F.Pessoa
A poesia está nas ruas, assim como nas coisas. A poesia está em gestos involuntários. Entre frases obscuras. Na parede das cozinhas. Nos anéis da seiva, no tenteio dos filhotes, nas asas que latejam. Nos resíduos dos amantes, misturados com estrelas.
A poesia está nos restos dos dias. Nos silêncios. Pouco percebida, a poesia verte sua secreta alquimia:
transfigurar os sinais de menos, as marcas da miséria, o rumor do que poderia ter sido. Resgatar a dança de esperanças perdidas, o frescor das bocas, as mãos em luta amante com a matéria do mundo. Água vital das origens e das utopias, e sede infinita, a poesia está em tudo.
No entanto, em paradoxo: a poesia é raríssima. Dificílima. Poucas, raras vezes a poesia emerge da natureza das palavras e transforma-se em poemas. Poucas, raras vezes os verbos e os nomes se fazem a carne absoluta da poesia, som e sentido em unidade mágica que recria o real, inventando-o.
Milhares e milhares de versos, para algumas palavras de poesia.
Muitas toneladas de matéria-prima-para alguns gramas de poema (Maiakovski).
Necessidade vital: por que tão escassa?
Por um lado, o mistério da emergência do poema, seu nascimento não redutível à consciência lógica nem à intencionalidade do sujeito que poeta.
Por outro lado, há poucos instantes possíveis para o florescimento da poesia na história cotidiana.
É preciso conviver com os poemas. Andar com eles. Sonhar com seus signos.
Ler, reler, não sei quantas vezes. Renascer com suas palavras vivas.
Expor-se à sua permanente revolução da linguagem.
Deixar-se seduzir por seus cantos.
Fazer travessias.