sexta-feira, 15 de julho de 2011

da série: Tenho um amigo que disse que eu...


Deveria descansar mais que não é bom dormir pouco que o sono repõe as energias gastas e, óbvio, acabou partindo para o discurso em nome de uma vida saudável. Só faltou sugerir que eu mudasse totalmente a alimentação. Não, não faltou. Sugeriu: — saladas de rúcula, acelga, alface... Foi me dando um sono.

Já um outro amigo disse que não é nada disso e, que cada um é cada um. Nossa que percepção. Não consegui esconder meu risinho que, como já sabem, começa no cantinho esquerdo da boca vai lentamente se abrindo, mal parece sorriso, na verdade é um leve mover de lábios. Se bem que não tive a intenção de esconder não. Amigo que é amigo não se melindra da gente demonstrar o que sente.

Já um outro amigo adepto do “Carpe Diem”, todo sorridente, foi logo dizendo que é isso mesmo : — devemos aproveitar ao máximo todos os momentos sem nos preocuparmos com o amanhã, pois não sabemos o que nos reserva o destino. O que importa é o presente e que dessa vida nada se leva mesmo e que... E que... Bem, amigo a gente gosta e pronto, independentemente se o sujeito é esquisitão, gosta de frases feita, clichês..

Já um outro amigo, poeta de mão cheia, entrou na conversa e não teceu nenhum comentário não. Só nos olhou profundamente e, com sua voz doce, relembrou o grande escritor e suas sábias palavras: — “amigo é só isto a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e todos sacrifícios . Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é .”

Com os olhos marejados de lágrimas e o sorriso escancarado esbanjamos saúde e com um bom vinho alongamos o prazer do viver.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nenhuma palavra

Paul klee

Eu não sei bem o que ele pensou, se é que pensou, mas uma atitude daquela por certo que não. Será que é possível alguém não pensar em nada? O não pensamento, o esvaziar a mente de que falam os iniciados. Em minhas andanças aprendi que é justamente o contrário, dizem os budistas que a mente deve estar sempre cheia de pensamentos, mas alertam : — bons pensamentos que tornam a mente vazia.

Observação e leveza, completam. Procuro colocar esses e alguns outros ensinamentos em prática e, às vezes, me pego no finalzinho da tarde a olhar pela janela e observar o vai e vem das pessoas apressadas em seu viver.

Quando chove, então, o corre-corre aumenta, a avenida fica uma balbúrdia, táxis que param em lugares inadequados, pessoas bravas com alguns motoristas de ônibus que não param nos pontos, buzinas... É a cidade. É o fim do dia. É também a hora da Ave-Maria. E no meio disso tudo escuto longe o sino da igreja chamando os fiéis.

E mais uma vez penso no não pensar, no desligar-se proposto por algumas seitas ou no religar atribuído ao significado da palavra religião. Eu não sei bem o que ele pensou, se é que pensou, mas uma atitude daquela por certo que não. Nenhuma palavra, nenhuma carta. Nada. Somente o vazio. Vazio da mente, do corpo. Transcendência, morte.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Era para mim.


Não sei se começo pelo que vai dentro ou fora; pelo paletó ou pela camisa. Na realidade não se trata de paletó, e muito menos camisa. Explico: — é só mesmo um velho hábito de denominar, tratar coisas diferentes como se elas fossem iguais. Paletó, blazer, casco, jaqueta. E, bastou cair à temperatura que lá estou eu procurando um blazer para vestir. Mas não uso com camisa, não. Uso mesmo é com uma camiseta, pois além de ser prático penso eu, fica mais feminino. E gosto muito.

Mas apesar da minha dúvida no começo dessa narrativa, a bem da verdade, o que importa aqui é o que vai dentro, ou melhor, o que ficou guardado dentro, no fundo de mim. Foi tudo muito rápido. Hoje, no finalzinho da tarde quando virava à esquina Moreira Cesar avistei um grupo de jovens senhoras sorridentes. Na hora não me dei conta que o sorriso era para mim. Demorei uns segundos até reconhecê-las. E, quase no meio da rua, eufóricas nos abraçamos.

As jovens senhoras foram professoras, na Escola Estadual Francisco Eufrásio Monteiro, e na época eu era a Coordenadora Pedagógica na mesma escola. Trabalhamos juntas durante três anos e nas nossas reuniões semanais, os famosos HTPCs, eu sempre procurava ler um poema, um texto literário ou comentar algum filme interessante antes de começarmos as discussões dos temas propriamente pedagógicos.

E, hoje a tarde no friozinho da Moreira Cesar, esquina da Cesário Mota, elas recordaram desse fato. Meus olhos se encheram de lágrimas, meu coração ficou apertado, e ao mesmo tempo senti uma grande alegria com essa bela lembrança guardada lá no fundo de mim.