quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Semper vivium


Viver é, para a Biologia, em suma, simplesmente manter um metabolismo, produzir energia quando comemos ou respiramos.
Mas, nessa nossa vida corrida, das noites mal dormidas, das manhãs acordadas de sobressalto e das tardes paradoxalmente atribuladas em monotonias cotidianas, quantos de nós estão apenas existindo, sem saborear a unicidade do momento ou respirar a dádiva da liberdade?
Quando foi a última vez que você olhou para o céu?
Mais corriqueiro e menos clichê que isso; quando foi que disse: “bom dia!”, assim mesmo: com exclamação no fim: “bom dia!”. Daqueles que não é dito de forma mecânica, automática, como quem tem em mente a tarefa futura a ser realizada, e sim daqueles que escapa por entre os dentes; aquele que a gente sente emergir das profundezas das entranhas, aquecendo ao passar pelo coração e rasgando o horizonte num sorriso largo.
“Vivo intensamente!”, dizem muitos.
O que é “intensamente”?
É acordar saltando de asa-delta e já aterrissar no lombo de um cavalo em disparada?
É isso intensidade? Velocidade? O fazer incessante? O riscar itens de uma lista a ser cumprida?
Por que não extrair zelosamente a grandeza ímpar dos diminutos detalhes que nos cercam? Saber o momento de parar em contemplação do agora?
Ter vagareza búdica.... vagabúdica.
Rir!
Isso mesmo! Rir das palavras, das novas palavras, das velhas, do novo uso das velhas.
Apreciar cada fonema, cada som que faz vibrar o tímpano, palpitar o coração.
Porém, talvez seja difícil, nestes tempos gris, sentir a energia correr nas veias.
Talvez estejamos com a vista turva, coberta pelas cinzentas nuvens das convenções e convicções, pautando-nos no dever de viver, de conviver, de sobreviver.
Catatônicos na praticidade diária.
Contudo, cabe a nós nos libertarmos das amarras sociais, das pesadas correntes da obrigação, das grades dos julgamentos e abrir fúlgidas asas forjadas na autenticidade, alçando voo rumo ao infinito das possibilidades.
Gritar: “Carpe diem!”;
“Carpe noctem!”;
“Carpe vita!”

Pedro Aduan- professor de Japonês-  aluno da UNISO- Universidade de Sorocaba- Letras- e meu garoto :o)

sábado, 24 de setembro de 2011

da série- Tenho um amigo que disse que eu:


Ando é muito ranzinza, mas que ele entende, imagine. E sabe que é justíssimo esse meu momento, que são muitos compromissos, blá... blá...blá...E por aí foi com um discurso todo cheio de dedos. Eu que não sou boba aproveitei para rir um pouco. E pude mais uma vez constatar, o que ele nem de longe compreende, a leveza que sinto com meus deliciosos compromissos. Ri muito. Foi quando ele à queima roupa disse:- péssimo o seu comportamento no oftalmologista. Nossa! Não se pode mais comentar nada que a notícia se espalha e, claro cada um aumenta um detalhezinho só pra colocar seu estilo pessoal de narrar. Pronto, é o que basta.

Já outro amigo, à boca pequena, me disse: — achei uma bobagem o ocorrido. Não precisava todo aquele pampeiro era só um exame corriqueiro, aliás, e usado desde o tempo da minha avó, Fiquei, com meus botões, a matutar que pampeiro será esse que chegou aos seus ouvidos. Mas amigo é amigo, e se a gente não puder falar o que está pensando melhor nem falar nada. E ele é meu amigo, sei disso. E foi ,então, que rasguei o verbo :— Meu querido, veja você que depois de todos aqueles exames de alta tecnologia ,o sujeito ou melhor o doutor pede gentilmente que eu me acomode em uma bela poltrona , apaga as luzes e de repente só o clarão na outra parede com algumas letras do nosso alfabeto e a famosa técnica: —

A senhora enxerga melhor: — assim, clic ou assim, clic assim ou assim clic assim... E como eu tenho o hábito de comparar para poder escolher o que sinto com a melhor opção, a cada mudança da futura lente respondia: — essa está melhor do que anterior, ah! essa é mais nítida , essa... O que o médico não gostou, pude perceber. Até que levada pelo que meu amigo nomeou acima, ranzinza, e eu categoricamente entendo como o ato de refletir, disse em bom tom ao médico: — impossível não fazer comparações quando temos que escolher é um processo natural da nossa mente, infelizmente nem todos fazem uso desse recurso, pois para muitos pensar é cansativo e por ai fui ... clic, luz acesa. Bom dia, doutor.

Dessa vez nem tive tempo de ouvir meu outro amigo que, com seu passinho miúdo, chegava. Mas ele também nem disse nada, sabedor que é da importância da refexão, sabia que não havia nada a dizer mesmo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Minicontos

Livro -Dois Palitos- Samir Mesquita


O vento ,inconstante e infiel, dançou primeiro com o trigal,mas logo logo, o trocou pelas cortinas da sala.

O outono chegou entre brisas e desejos. A árvore se despiu apressada .Fizeram amor em plena rua.

Se eu fôsse você ,ficava me beijando o tempo todo.
Já eu, se fôsse você, iria muito além.

Não quer casar, não quer juntar. Que é que você quer, então?Distância.



Fred Nabhan- escritor/ poeta, e ex- integrante do grupo "O Tablado", é meu aluno na Oficina "Os minicontos" ,em Tatui. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

"Tempos Modernos"




-Isto é um assalto.

-No débito ou no crédito?





Fred Nabhan-  escritor/ poeta, e ex- integrante do  grupo "O Tablado", é meu aluno na Oficina em Tatui. O minitexto é fruto de um exercício proposto em aula

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Calcinha de Oncinha

          Dias antes da festa das bodas de prata, a mulher flagra o marido comprando calcinhas de oncinha.

-Faz vinte e cinco anos que você me conhece e nunca usei isso.
-Para quem é, para a sua amante?
Ele pálido e gaguejando, responde:
-É pra mim. Eu sempre adorei usar calcinhas ,me perdoe.
A festa das bodas foi um sucesso. Ele nunca mais deixou de usar calcinhas, pelo menos em casa.  Tampouco, deixou a amante.

                                                
Ary Roberto de S.Pinto- ex- diretor cultural em Tatuí , e atualmente meu aluno na Oficina "Os minicontos"

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

da série- Tenho um amigo que disse que eu:


Posso parar no meio do caminho, aliás, que todos podem. Como assim parar no meio do caminho? E só por brincadeira completei: — para colher flores e levar para a vovozinha. Mas parece que meu amigo não gostou da piadinha e calou-se. Por certo queria alongar-se na questão

Já outro amigo, solidário por natureza, resolveu tomar as dores do colega incomum e disse concordar. E ainda acrescentou, para o espanto do nosso amigo, com um ar todo sério: — Podemos sim parar, apreciar a natureza e quem sabe até descobrir um lugarzinho gostoso para se morar, fazer novos amigos. Não teve jeito, depois dessa o clima ficou tão carregado que os dois nem se despediram. Saíram a miúdo.

Já outro amigo, amante de caminhos e caminhadas, disse que podemos tanto seguir em frente, mesmo sabendo que o caminho será árduo, se essa é a nossa meta ou dar meia volta, mas não pelo fato da sua aridez e sim porque nos parece o melhor a ser feito. Afinal, quem disse que não podemos escolher outro caminho, desistir de tudo já conquistado para conquistar outros sonhos, talvez menores, mas nem por isso menos importante e com os quais sentimos a verdadeira alegria do viver.