Deveria pensar mais a
respeito do assunto já que eu também sou mãe. E que é no parque de diversões
que podemos saber quem realmente tem esse dom. O dom de ser mãe. Na hora não
quis contrariá-lo, ele estava tão empolgado em sua fala que deixei passar. Não
deveria. Acabou indo embora todo sorridente. Com aquele sorriso fruto de quem
pensa que sabe e não sabe. Não que eu saiba tudo,ao contrário, mas, pelo menos
não fico rindo à toa.
Já outro amigo falou
que não é nada disso. E que para nos conhecermos ou conhecermos o outro é
preciso silêncio e observação. Coisas impossíveis nos parques de hoje com esses
brinquedos velozes e barulhentos. Concordei, em parte, mesmo porque, acho tão
pouco só silêncio e observação em se tratando de nos conhecermos. Imagine, então,
conhecer o outro.
É preciso mais, muito,
muito mais disse outro amigo. E nesse momento fechei meus olhos. Voltei à minha
infância ao lado de minha mãe no parque de diversão. Senti o perfume que
exalava de seus belos cabelos negros e a força do olhar que sempre teve sobre
mim. Naquela época era sim possível saber quem e como eram as mães só pelo
jeito como brincavam no silêncio reinante da balança, com seus movimentos de ir
e vir, da barca puxada por cordas, do chapéu mexicano com suas voltas
vertiginosas. Algumas empurram os filhos como que se através da balança eles
realmente pudessem ir embora pra sempre ou a barca afundasse imaginariamente
num mar de águas profundas.
Eu felizmente sorria ao
ver a alegria de minha mãe correndo comigo para aproveitarmos todos os brinquedos.
Mesmo sem saber o que era dom, aquela mulher vivia sua maternidade com todas as
forças, talvez porque vivesse todas as outras coisas da vida com a mesma
intensidade. Não era só a minha mãe no parque. Ali estava uma pessoa inteira.
Uma mulher com vida própria, sabedora de seus desejos mais simples, consciente
de que na vida é preciso escolher.
Já outro amigo, amigo
de cabeceira, conhecedor dos mistérios que nos envolve, diz:─ “Para ser grande, sê inteiro: nada Teu
exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes”.
Mãe,
pai, filho, avô, tio... O que importa? Só precisamos mesmo, como canta o poeta,
sermos inteiros.