Mudo feito sertanejo em
épocas de seca. A princípio, pensei que ele se referia à cor dos meus cabelos,
já que faz tempo não mudo de cidade, de casa. E até perguntei: — Você gostou da cor atual? Ele arregalou os
olhos e sorrindo disse: — Não é nada disso, me refiro ao seu modo de pensar, da
sua visão de mundo. Eu dei aquele sorrisinho que você, leitor, já conhece e não
mudou nadica de nada. Começa no cantinho esquerdo da boca e mal parece um riso,
é mais um mexer de lábios mesmo. Sorriso perceptível para poucos, raros eu
diria. Gente que gosta de matutar, observar, silenciar.
Já um outro amigo diz
que não se trata de nada disso não, e que a vida da pessoa é assim mesmo.Uns
permanecem sempre os mesmos. E não querem mudanças, a não ser àquelas
pequeninas. Coisas do viver diário. Crescem
na mesma cidade, mantém os mesmos amigos da infância e até acrescentam alguns
outros. Mas estão sempre nos mesmos lugares. E para esses a vida é assim mesmo,
apenas um suceder de dias. Já outros
traçam outras experiências, são inquietos por natureza, ávidos por viver intensamente,
e nos dão a impressão de que cada dia é um novo dia na vida deles.
Já um outro amigo,
amigo maior, desses que sempre tem algo a nos dizer e sabedor que a vida é
feita de prosa e poesia diz que não se trata de uma simples mudança. E sim de aprimoramento.
E visão de mundo tem a ver não só com novas experiências, mas principalmente
com incorporar ao nosso viver diário aquilo que lemos nos bons livros. E, com
sua voz doce e rouca, leu para mim:
“uma
leitura que nos põe em estado de perda, que desconforta, faz vacilar as bases
históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus gostos,
de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a
linguagem, com a vida”. Roland Barthes.
E
completou: — aí sim, minha amiga, podemos nomear de mudança, pois se dá por
inteiro. Eu sorri, mas dessa vez um sorriso escancarado.
BARTHES, Roland. O prazer do texto. 3. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.
3 comentários:
Com o maior prazer irei visitar sim e, com certeza, trocaremos muito.
abraço e desculpe-me a demora em dar um retorno.
abraços
Gosto da ousadia destes amigos e este amigo maior foi seguro Sueli.
Linda esta série.
Já merece um livro.
Um abração amiga.
Bjo
Os "Deuses te ouçam" Toninho, quero muito sim um livro dessa série.
Um abração amigo.
bjjo
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