quinta-feira, 6 de setembro de 2012

da série: Tenho um amigo que disse que eu:


Preciso modificar alguns hábitos ou melhor  arrancar todos eles, os quais delicadamente nomeou de síndrome “habimort”, ou seja, hábitos que matam. Foi como me explicou e, segundo ele para o meu próprio crescimento interior. Fiquei ali parada sem saber se ria ou chorava em ver o seu empenho em me convencer. Não que eu não busque mudanças. Sei que são saudáveis.  Mas as coisas não são tão simples assim. E depois todos temos hábitos. Como dizia minha sábia avó: — Tem coisa mio di bão não, bicho di custume.

Já um outro amigo diz que não tem jeito mesmo e que, quando arrancamos um hábito outro devagarzinho vai se formando,  temos que estar alertas o tempo todo. Ruminando essas ideias fico a pensar: —  pra que mudar se logo outro vai se enraizar. O jeito, então, é ficar com o velho que, pelo menos, já conheço.

Aí um outro amigo não aguentou e disse que não é nada disso, que essa coisa tão simples  chamada  de mesmice nos incomoda muito, nos deixa amargurados. E é preciso extirpá-la com um método que ele nomeou de “ou vai ou racha”. E que consiste em todo dia ter algo novo para fazer. Como, por exemplo, inventar uma receita de bolo que não precise ir ao forno ou um bordado que não use linhas ou uma visita a alguém que não se conhece ou... Arregalei uns olhos dado ao inusitado da situação que ele pediu desculpas e disse que nossa conversa era um hábito que precisava extirpar. Cada um, um — pensei.  Mas é bom amigo. Fiquei sabendo que logo vai receber alta. Ou vai ou racha maldade minha esse pensamento. Fazer o que e a força do hábito. 

Eu já estava quase desistindo de querer entender quando apareceu meu velho amigo, amigo maior, desses que ficam enraizados no nosso coração. E ele disse daquele seu jeito habitual de dizer coisas: — que quando menos se espera, quando a hora chega e o nosso coração transborda, ele sabe que  precisa de  novas aventuras, novas vivências. E o que é velho, o que fica ali nos incomodando e nos tornando amargurados vai embora como num passe de mágica. Não deu nem tempo de arregalar meus olhos. E, ele já veio logo se explicando, conhecedor de meus pequenos hábitos, mas que essa mágica é a gente mesmo quem faz. E é muito simples não precisa de método, nem nomes, nem nada. Só é preciso aprender a olhar para dentro de si. E escolher a cada dia o que se quer, como se quer, para que se quer, e  permitir-se o espanto consigo e com o outro.