quarta-feira, 11 de abril de 2012

Passos de um bolero


Estava eu recostada em um banco da velha pracinha, quando deparei com aquele sujeito vindo em minha direção. A princípio, como era de se esperar senti um calafrio percorrer todo o meu corpo. Numa mistura de medo e autodefesa cheguei a pensar que o sujeito sentia o mesmo, já que, a rua estava deserta e só nos dois nos encontrávamos ali. Mas à medida que ele se aproximava esse pensamento se dissipou, pois apesar de caminhar com passos firmes possuía uma leveza digna de bailarinos. 

E, quem sabe, fosse mesmo. E aproveitava o vazio das ruas para passos de uma coreografia imaginária. Só isso mesmo e nada demais. Mas de repente parou bruscamente. Ajeitou o chapéu. Enfiou as mãos no bolso do paletó. E olhou-me nos olhos. Novamente os calafrios e tive a exata sensação de desmaio. Cheguei a enxergar um revólver entre seus dedos. Então ele veio calmamente em minha direção e com uma voz rouca perguntou: — o amigo tem fogo?  Eu aliviado disse: — Não fumo, companheiro. Senti o peso da sua mão e o frio da lâmina adentrou no meu peito, enquanto ele  sorria  improvisando passos de um bolero.