terça-feira, 31 de março de 2009

Josefina

Tua silhueta fina
é que me deixa
nessa cina

Sem saber se fico
em cima na hora do amor
que horror

Com esse calor
Colocas cobertor
esfria todo amor interior

qu’i minina, me beija
com a boca de nicotina
fecha a cortina
e essa luz reluz

Tua silhueta fina
que saudade
das pernas
da falecida Josefina
sú-

segunda-feira, 30 de março de 2009

só uma palavrinha....

...aos que temem a ditadura da razão; é tempo de arquivar de uma vez por todas a máxima obscurantista de que cinzenta é toda teoria, e verde apenas a árvore esplêndida da vida. Ela só pode ser sustentada, paradoxalmente, pelas naturezas não-passionais, insensíveis ao erotismo de pensar.
Quem, lendo um poema de Drumond, um livro de Tolstoi ou um tratado de Hegel, acha que está se afastando da vida, não começou ainda a viver. Sem pensamento, a vida não é verde: é cinzenta.
Não é a razão que é castradora, e sim o poder repressivo. S.Rouanet
..dura caminhada..mas vou. se vou.

quarta-feira, 25 de março de 2009

L.A.

ele ali parado na minha frente
fiquei indecisa, essas coisas acontecem.
na hora, confesso, pensei em falar
mas também falar, o quê?
qualquer coisa. não, isso não.
o que seria bom ele ouvir?
Tem isso?
ele precisa ouvir alguma coisa,
ou ele precisa de outra coisa,
e eu sei que coisa é essa.
hã, hã, deveria! sei.
depois de tantos anos,
tantos livros, propostas.
que bosta.
mas foi de repente sabe,
não, não. não estou me desculpando.
assumo. Falhei, meus mestres,
o projeto político pedagógico, às reuniões,
infindáveis discussões, considerações.
cartas ao sr.reitor
perdão.
mas, sabe, aquele garoto,
mostrando o papel , insistindo comigo:
então, dona sou
-sou L.A.
-hum ?
-Liberdade assistida.
-quase consegui, se o cano não falha ,meto bala, era só sangue.
-e ai, dona , era nóis na fita..te dava até carona, vento bom...
500 cilindrada,meu, tá ligada., tó solto, o doutor conseguiu
também, quase 4 paus.
O que eu podia fazer?
ele parado na minha frente,
nos olhos uma dor enviesada, no sorriso de pouco dentes
a alegria , o sonho de garoto, um cisco no peito,
uma falta de tudo.
então, saiu assim, de repente,
displicentemente:
Que bom, cara, você deu sorte.
Falô professora. Bate aqui.
estendi minha mão.

terça-feira, 24 de março de 2009

...vidraça

de um lado essa vida besta,
de outro: mínimas epifanias.

o que faz parte das coisas que me movem.
galinhas brancas?
chuva na vidraça?

a via turva,
a outra via,
via crucis
na via,
na veia,
na vala,
realidade?

mediocridade criada.
grandes paixões
cada dia, uma
história contada

terça-feira, 17 de março de 2009

O corpo da poesia a poesia do corpo-


(a dança do homem primeiro)


dança pássaro guerreiro,
dança que sua pena (pele) é poesia,
palavra texto
corpo, símbolo do sagrado
corpo nu,
linha a linha
no registro do verso.
marcas do tempo, tempo do homem, corpo da poesia,
poesia no corpo, deuses e
demônios
sons e silêncios

sábado, 14 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

uma batida.... sú

eu descia a então, Rua XV de Novembro na altura da, não mais existente, “Lojas Singer Máquinas de Costura -Novas e Semi-novas”, ia em minha caminhada rotineira com destino certo e enfadonho: o colégio.
Com o pensamento longe, feito a pássaro livre em seu vôo matinal, eu seguia desatenta a tudo, na distância encantatória entre as coisas e o homem. Quando uma batida forte, alucinante vinda da loja de discos...
alterou os meus passos,
acelerou meu coração,
e em mim, como disse o poeta: a anatomia ficou louca,
tornei-me toda coração.
Inesquecível manhã, semáforo fechado,
vermelho
também dentro de mim,
apenas uma batida e toda uma nova harmonia,
momento epifânico esse,
quando ouvi pela primeira vez:
“HELP”

segunda-feira, 9 de março de 2009

A criança objeto (a) rever Lacan- os quatro discursos-

A psicanálise atualmente lida com situações muito diferentes das da época do mestre Freud. Que sujeitos do inconsciente se apresentam a nossa escuta nestes tempos? Qual o lugar de uma criança na família, na sociedade, na ciência de hoje?
O conceito criança sempre foi um enigma a ser decifrado.
Platão, por exemplo, supunha poder proteger as crianças da má influência dos pais, entregando ao Estado a tarefa de educá-las. Por outro lado, com o golpe desferido por Copérnico, Darwin e Freud nas ilusões humanas, a terra, o homem e o inconsciente passaram a ter novo estatuto. Com as mudanças no tecido social, o “eu passou a ser um outro”, como dizia o poeta Rimbaud.
Sujeito criança, objeto adulto, objeto criança, sujeito adulto. Recortemos o significante criança, já que o infantil não tem tamanho – (mesmo que o Código do Menor surgido nos anos vinte ou o Estatuto da Criança de 1927 tragam em seu texto uma “pré-ocupação” com os cada vez maiores problemas do "menor"). Cohen, H.R.
Qual o real estatuto da criança hoje?
Criança do Shopping Center, do playground, do condomínio fechado, da rua, do mato, da prostituição nas cidades, dos berços onde aparecem mortas nas maternidades.
De que criança falamos?
No conjunto Brasil, o que é uma criança brasileira? Que significantes identificam-nas como presas ao discurso da família ou presas da política do Estado brasileiro?
Do tempo que não tem tempo para compreender e, muito menos, para concluir. Estamos sob a égide do instante do olhar.
Como responder a esse mal-estar senão com aquilo que as crianças são mestres na arte de saber-fazer? ....
O lúdico, o infantil, a fantasia, são anteparos ao desejo do outro devorador, com sua demanda irrespondível.

terça-feira, 3 de março de 2009

Alegria... potência de ação

Espinosa diz que tudo que existe são encontros e a capacidade de você afetar e ser afetado por esse encontro. Se esses encontros aumentarem minha potência de ação eu experimento a alegria; o contrário se esses encontros diminuirem minha potência de ação experimento tristeza.
“Boas Misturas” diz Espinosa, que é trabalhar esse encontro respeitando-se a essência do outro.
...depois outros também falaram.... Nietzsche... a vontade de potência.... blá, blá, blá..

...e Gilberto Gil, poeticamente diz, talvez,o mesmo.
Há de surgir
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê sorrir
Há de apagar
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê chorar

segunda-feira, 2 de março de 2009

...ir além dos sons das palavras... Escutar

...Se o dizer não se esgota na expressão sonora dos vocábulos, o escutar também não se restringe à captação auditiva dessas sonoridades. Escutar é um recolher-se concentrado na palavra que nos é dirigida. É um ouvir recolhido. Só escutamos verdadeiramente, quando “somos todo ouvidos”. Para escutar é preciso fazer parte do que se escuta, ou seja, sentir no mesmo sentido (homologein). Logein literalmente significa “dizer o mesmo que um outro diz”, ou seja, confirmar o que um outro diz.
Por isso, no escutar, o légein (dizer) desdobra-se em um homologein (estar de acordo com o mesmo dizer). Para que as coisas presentes brilhem e apareçam na presença, o légein-dizer desdobra-se em um homologein da escuta.

Heidegger interpreta o homologein como uma escuta obediente ao lógos, que consiste em dizer o que o lógos diz. Escutar na obediência é tornar-se obediente ao dizer que nos vem ao encontro, dizer este a que já pertencemos. Um escutar assim, como já sabemos, é um ir além do som das palavras.
É sintonizar com aquele que fala. M.Chauí
Talvez se pudesse acrescentar: só se ouve bem o que se ama.