Faço parte desse grupo de pessoas de temperamentos desensofridos, e apesar de ter comentado comigo, em uma outra oportunidade, essa sua teoria me fiz de rogada só pelo prazer em ouvi-lo. Ele, então, não perdeu a oportunidade e entusiasticamente discursou: — Veja bem, cara amiga, há no mundo somente dois tipos de pessoas: — os de temperamentos desensofridos, os quais estão sempre prontos a zombar vão da pilhéria à bofetada com a rapidez de um salto, mas ao mesmo tempo conservam o bom humor; e os de temperamentos sofridos totalmente sem humor, carregam o mundo nas costas.
Já um outro amigo disse que a dor é a condição sine qua non para subirmos os degraus da evolução espiritual, mas que em mim a dor virou pura ventania. Concordei porque gosto mesmo de olhar minhas mazelas não como ventania que gela o corpo, mas feito palito de fósforo aceso. Fogo rápido. Queima somente quando seguramos tempo demais. E aproveitei da oportunidade já que meu amigo, o criador da teoria, me olhava como quem espera uma resposta. Aí não me fiz de rogada, não. E arrematei: — não se chega ao grupo dos desensofridos sem o muito sofrer.
Já um outro amigo com a serenidade dos que sabe que a dor queima feito fogo, mas que também gela feito ventania, trouxe na sua prosa a beleza da poesia e disse que, quer pertença ao grupo dos sofridos ou desensofridos, como eu amanheço e anoiteço no mundo das palavras nada disso importa. Dor, alegria, fogo, ventania tudo vira fantasia. Concordei porque, como ele, acredito no poder da palavra transformando nossas vidas. Ele conhecedor do que vai fundo em mim riu um risinho de quem sabe a dor que provocaria sua partida.