segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"...Que faça acordar os homens..."

Canção amiga

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.



Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.



Canção Amiga"- é um poema no qual Drummond expressa o ideal de construir uma poesia capaz de despertar a consciência dos adultos e servir de canção de ninar para as crianças.

A melhor forma de homenagear o poeta, creio, é tentar ler com profundidade a sua poesia

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Minicontos



Bela Viola
Nossa! Que homem bonito! Que porte, que olhos, que cabelos! Isso não é um homem, isso é um deus grego, grego não, babilônico. Que maravilha!! Sorridente e feliz, João mandou-se um beijo estalado, saiu do espelho e partiu prás baladas.
Fredy Nabhan

Sexo explicito
O outono chegou entre brisas e desejos. A árvore se despiu apressada .(Fizeram amor em plena rua)
Fredy Nabhan


O Boto
Na beira do igarapés o boto se fez homem e engravidou a pobre donzela. Além da lua, eu  fui a única testemunha. Mas foi ela quem me seduziu.
Ary Roberto Souza Pinto


A Correria
Marilson estava de costas quandoo gatilho foi acionado. Nada viu. Somente ouviu o estampido. Todo mundo saiu correndo. Porém, por decisão do destino, foi ele quem recebeu a medalha de ouro da maratona
Ary Roberto Souza Pinto



Exercícios propostos em sala -Tatuí.

sábado, 15 de outubro de 2011

Professor, um encontro com o outro

Disponibilidade à vida e a seus contratempos. Estar disponível é estar sensível aos chamamentos que nos chegam, aos sinais mais diversos que nos apelam, ao canto do pássaro, à chuva que cai ou que se anuncia na nuvem escura, ao riso manso da inocência, à cara carrancuda da desaprovação, aos braços que se abrem para acolher ou ao corpo que se fecha na recusa. É na minha disponibilidade permanente à vida a que me entrego de corpo inteiro, pensar crítico, emoção, curiosidade, desejo, que vou aprendendo a ser eu mesmo em minha relação com o contrário de mim. E quanto mais me dou à experiência de lidar sem medo, sem preconceito, com as diferenças, tanto melhor me conheço e construo meu perfil .
Paulo Freire
1999



Professor, um encontro com o outro

Uma palavra veemente, e ao mesmo tempo suave, que muitas vezes ouvi quando menina: — leitura. Ler tornou-se assim algo constante em minha vida. A princípio somente uma maneira deliciosa de afastar-me de tudo e de todos. Mas como o tempo tornou-se uma necessidade vital. Ler, então, era o meu maior prazer.
Passava horas e horas na biblioteca ou mesmo no fundo do quintal embaixo da velha mangueira com o livro que, às vezes, chegava a cair das minhas mãos tamanho o cansaço. Acordava assustada com minha mãe que sorrindo fechava o livro. E eu seguia cambaleando para dentro de casa a sonhar como o final da história

Hoje relembrando esse fato penso que tornar-me professora, já estava presente na minha infância não só pela paixão aos livros, mas por acreditar no sonho, no diálogo, no questionamento, na flexibilidade e no envolvimento com as pessoas.
Na época eu não tinha a exata noção do significado dessas palavras na vida de todos nós seres humanos, mas foi através das brincadeiras com os amigos que vivenciei cada uma delas: — no faz de conta dos sonhos, nas conversas e acordos, na aceitação das nossas diferenças e no desejo de estar juntos.

Às vezes percebo coisas que faço em sala de aula que aprendi nas brincadeiras da infância, a infinita curiosidade que eu tinha em descobrir palavras novas, em observar o contorno de cada uma delas, em recortar dos jornais palavras belas e depois no silêncio arranjá-las quase a formar versos. Estão presentes, nas situações que crio hoje com meus alunos, futuros professores, quando os instigo a pesquisar incansavelmente prosa e poesia de grandes autores, no exercício diário da arte da escrita, na paixão pela palavra e no prazer inenarrável da reflexão.
Ser professor é um grande desafio. Desafio próprio da profissão. Para mim, é também um caminho, um belo caminho, um encontro comigo mesmo, com meus questionamentos, com minha visão de mundo, e, que de uma maneira maravilhosa me possibilita o encontro com o outro.
Um grande aprendizado.
 
 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Iniciação

Foi num cinema poeira que achei os cigarros, esquecidos na poltrona ao lado. Não me lembro da marca, mas lembro que o filme era de Flash Gordon. Fumei tres seguidos no banheiro acanhado.
Um coroa de óculos escuros acendeu pra mim. No mais, só me lembro da tosse, da mão do cara no meu sexo e da nota de dez que ele me deu, depois.

Foi asim que, num só día e pela primeira vez, fui fumante e prostituto entre naves estelares e pistolas desintegradoras na face ocidental do planeta Mongo.


Fred Nabhan- poeta (de mão cheia) e ex- integrante do  grupo "O Tablado", atualmente é meu aluno na Oficina em Tatui. O miniconto é fruto de um exercício proposto em aula.