quarta-feira, 11 de abril de 2012

Passos de um bolero


Estava eu recostada em um banco da velha pracinha, quando deparei com aquele sujeito vindo em minha direção. A princípio, como era de se esperar senti um calafrio percorrer todo o meu corpo. Numa mistura de medo e autodefesa cheguei a pensar que o sujeito sentia o mesmo, já que, a rua estava deserta e só nos dois nos encontrávamos ali. Mas à medida que ele se aproximava esse pensamento se dissipou, pois apesar de caminhar com passos firmes possuía uma leveza digna de bailarinos. 

E, quem sabe, fosse mesmo. E aproveitava o vazio das ruas para passos de uma coreografia imaginária. Só isso mesmo e nada demais. Mas de repente parou bruscamente. Ajeitou o chapéu. Enfiou as mãos no bolso do paletó. E olhou-me nos olhos. Novamente os calafrios e tive a exata sensação de desmaio. Cheguei a enxergar um revólver entre seus dedos. Então ele veio calmamente em minha direção e com uma voz rouca perguntou: — o amigo tem fogo?  Eu aliviado disse: — Não fumo, companheiro. Senti o peso da sua mão e o frio da lâmina adentrou no meu peito, enquanto ele  sorria  improvisando passos de um bolero.



3 comentários:

Toninho disse...

Numa noite escura,a rua deserta,dois corpos em movimentos,o medo impera do medo reinante.
Como um passe de magica um corpo desliza suavemente ao som de um bolero ao passo que o outro apenas se desespera.
Otimo conto amiga sobre as reações humana diante do inesperado.
Carinhoso abraço de minha admiração.
Bjo.

sueli aduan disse...

gratíssima,Toninhobira.

E sua criação poética, perfeita, complementam o conto de uma maneira magistral. AMEI!

E se me permite, fica uma dica: Dá continuidade, quem sabe, um conto, crônica, poesia...

carinhoso abraço de admiração
bjão

Karla Mello disse...

Avassalador!
Como todos os amores que nos "pegam" com a força que apenas nele reside.
Avassalador... E belo!
Bravo, poetisa amiga!
Seguindo-a... Com carinho e admiração ao seu trabalho.
Um beijo enorme.

Karla Mello