“O homem é o ser que se criou ao criar uma linguagem. Pela palavra, o homem é uma metáfora de si mesmo.”
Octávio Paz.
Uma das maiores crises de nosso tempo é a crise da linguagem. A perda da palavra, a perda da expressão própria, a perda da comunicação autêntica, a perda de uma linguagem pessoa e criadora. Essa é uma das mais profundas desfigurações da segunda metade do século XX. E um dos maiores paradoxos da nossa era: vivemos cercados de sistemas de comunicação, temos os maiores e mais complexos instrumentais da comunicação e toda a história, e ao mesmo tempo, nunca tivemos tão pouco a palavra própria, a expressão pessoal, uma linguagem que expressasse e encarnasse nossa identidade pessoal, uma comunicação verdadeira em que mutuamente nos reconhecêssemos. A perda da palavra. A morte da linguagem. As falas cada vez mais neutralizadas. Uniformizadas, Cada vez mais insignificantes. Estereotipadas. Reduzidas ao informe homogêneo. Cada vez mais sem voz, o homem contemporâneo tem dissolvida sua linguagem e sua identidade pessoal e pública. A inconsistência da linguagem, das imagens, da história , da vida.
Penso em Ítalo Calvino
“Ás vezes me parece que uma epidemia pestilenta tenha atingido a humanidade inteira em sua faculdade mais característica, ou seja, no uso da palavra, consistindo essa peste da linguagem uma perda de força cognoscitiva e de imediaticidade, como um automatismo que tendesse a nivelar a expressão em fórmulas mais genéricas, anônimas, abstratas, a diluir os significados, a embotar os pontos expressivos, a extinguir toda centelha que crepite no encontro das palavras com novas circunstâncias. O vírus ataca a vida das pessoas e a história das nações, torna todas as histórias uniformes, fortuitas, confusas, sem princípio nem fim. Meu mal-estar advém da perda da forma que constato na vida, à qual procuro opor a única defesa que consigo imaginar-uma idéia de literatura”. Ítalo Calvino
É preciso redescobrir e revivificar a linguagem. Renascer a linguagem significa também renascer a dimensão que se revela ao mesmo tempo raiz e utopia das palavras, e que tem tido imemorialmente – o nome de poesia.
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