A maior ou menor capacidade de nomear o mundo define a maior ou menor perplexidade e terror em relação ao mesmo.
No momento em que as coisas são nomeadas, rotuladas, deixam de ser assustadoras e passam a fazer parte do conhecido, do familiar.
O processo de apreensão do mundo pela palavra, contudo, tende a revestir a realidade com uma opacidade embrutecedora que anestesia a nossa percepção e nos induz a ver como óbvio, banal, algo que em sua essência é mágico e misterioso.
Dentro desse universo, onde a palavra deixou de habitar o mais íntimo da alma humana e perdeu, para usar uma expressão de Guimarães Rosa, a sua condição de “porta para o infinito”, a literatura constitui um elemento de transcendência, um meio de quebrar os condicionamentos limitadores do cotidiano e (re)instaurar o sentido “místico” das coisas.
Júlio César de Bittencourt Gomes. Professor de literatura, pesquisador na área de literatura e cinema, colaborador de "Teorema" - revista de cinema -, doutor em literatura brasileira pela Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), com a tese Imagens, Esquinas e Confluências: um roteiro cinematográfico baseado no romance "O quieto animal da esquina", de João Gilberto Noll.
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