Tinha o hábito, gostava mesmo, de pensar na morte, mas isso não a incomodava, não a deprimia , ao contrário, aprendera há muito tempo atrás com um velho professor que pensar na morte era pensar na vida. Viver. Isso também fazia muito, muito tempo, uma época em que os professores ainda ensinavam que o fundamental era... Ah! Pensou: — deixa pra lá. Gostava de deitar na rede, aquela brisa gostosa, e na pausa da leitura ficar observando a morte de uma formiga, de uma aranha, de uma planta, um objeto quebrado. A transformação de tudo. E pensar na sua própria transformação. Da menina curiosa que tinha sido à mulher determinada que se transformou. Da jovem sonhadora à adulta realista, engajada, questionadora, provocadora. Mas sabia, sentia, que jamais perdera a ternura conquistada em muitos caminhos trilhados. Agora mais envelhecida e com um coração infinitamente jovem abria-se para um novo pensar. Uma quase brincadeira que fazia consigo mesma: — morte rápida dizia sorrindo. Morte súbita para tudo que entristece, paralisa, desalegra, contamina, petrifica, envenena...
4 comentários:
[trouxe-me à lembrança um texto de Vergílio Ferreira, do qual recolho este breve trecho:
«Sim, a eternidade é o nosso signo. Não começámos a existir nem o fim da existência o entendemos como fim. Por isso não sentimos que não existimos antes de começarmos a existir mas apenas que tudo isso que aconteceu antes de termos existido foi apenas qualquer coisa a que por acaso não assistimos como a muito do que acontece no nosso tempo. E à morte invencivelmente a ultrapassamos para nos pormos a existir depois dela.»
... pó seremos, cinza]
um imenso abraço, Sueli
Leonardo B.
Lindíssimo trecho, Leonardo.
E,sinto-me lisonjeada.
um imenso abraço.
sú
Façamos essa morte súbita das coisas ruins ser real. Depende de cada um.
Perfeito,Renan.
forte abraço.
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