Era aquele barulho de brocas e britadeiras, de manhã à noite, deixando os nervos à flor da pele. Ele acostumara-se com uma facilidade que, na época, eu sentia como pura provocação. Mal entrava no apartamento e já ligava o som. Cheguei mesmo a duvidar que gostasse de música. Quem em sã consciência teria esse comportamento? Às vezes eu ficava escondida, só observando suas atitudes, e foi justamente numa dessas observações, fração de segundos, que presenciei a cena mais absurda da minha vida: ele com uma voz quase em sussurro, uma nota de cinqüenta na mão, dizendo ao rapaz que acabara de entrar: Amanhã, vê se capricha com as britadeiras. Ela está quase louca.
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