sábado, 27 de outubro de 2012

Quis acordá-la, mas não.


Desço a rua tranquilamente. Olho o relógio. Seis horas.  Rua deserta escuto o farfalhar de meus passos sobre o chão, cadenciado passo, dança e música misturadas ao silêncio existente. Na mente nenhum pensamento ordenado ocorre. Trajeto feito todos os dias, hábito enraizado, é só seguir em frente. Em alguns dias a atenção volta-se para o andar, em outros para a respiração, há ainda aqueles dias em que se fixa nos cheiros, nos aromas das casas, nos lixos tombados, no latido do cão e finalmente no gato fugindo sorrateiramente.

Feito a pássaro livre em seu voo matinal, ela muda rapidamente. O que determina essa atenção? Nenhuma escolha prévia. Nada. Somente o olhar e o sentir. Distância encantatória entre as coisas e o homem. Foi numa dessas manhãs, que inexplicavelmente e numa fração de segundos passei do sentir ao pensar. Um único pensamento tomou conta de todo o meu ser. Perdi a tranquilidade, o silêncio, a música, a dança, o chão. À medida que caminhava percebi que seria impossível viver sem resolver tamanho tormento. Pessoa de extremos voltei para casa. Olhei teu corpo na cama, passei-lhe suavemente as mãos pelos cabelos negros. Quis acordá-la, mas não. Para quê? Sobre o móvel deixei-lhe a chave.



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