Ainda ontem pensei sobre o fato e o que poderia ter dito no momento, no momento a gente nunca diz, tudo é sempre depois. Na hora, o que me veio foi tirar a faca da mão dele e limpá-la. Porque tudo foi também rápido, o cão ao lado o chapéu caído, o amigo morto. E não havia mesmo outra coisa a ser feita. A não ser poupá-lo, pelo menos, por enquanto do que viria pela frente, indubitavelmente. Passei-lhe as mãos sobre sua cabeça numa tentativa de afago, mais precisamente em sua testa, um passar de dedos, um deslizar, como quem quer aliviar a dor. Ele maquinalmente olhou-me e numa fração de segundos enxerguei o menino alegre de outrora. Sua voz num sussurro, um quase choro balbuciou:
— Adormecer, quem me dera adormecer. Ficar quieto num canto, e lentamente apagar-me do mundo dos pensamentos. Vendo-o assim perdido. Uma dor inimaginável percorreu todo meu ser. Doía de um jeito diferente das outras dores. Uma agulhada fininha seguida de um calor pelo corpo todo, um não querer fazer nada. Não me mover. Ficar ao seu lado com as mãos sobre sua testa vendo o corpo estendido no chão, o sangue se espalhando, o cheiro impregnando todo o ambiente. E, mesmo perplexa diante de tal fato, apenas não julgá-lo.
6 comentários:
tudo em uma fraçao de segundos...
te seguindo
Sim. tudo tudo ....segundos.
obrigada,MariAne.
bjus
lindo, Sú...
beijim
brigaduuuuuu, Carlinha.
beijaço
Tu tá afiada heim mulher.
ADOREI, imagens fortes, carregadas. Lindo Su... lindo.
:o)
obrigada, Katia.
bjão
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