quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ruminar ideias, uma catarse literária.

 Acordava antes de todos. Descia as escadas pé ante pé o mínimo barulho seria fatal. Sabia que iriam reclamar implicar mesmo com sua mania de sair cedinho. O que fazer? Esse era seu método de trabalho. Caminhar pelas ruelas tranqüilas, encher-se da paisagem, do silêncio, observar o início de mais um dia, das poucas pessoas que cruzavam seu caminho, dos gatos tombando latas de lixo, do cheiro do pão, e muito mais. Depois, muito depois, com a caneta e o papel em branco, às vezes, sentado defronte ao teclado: - ruminar ideias, elaborar frases, jogar com as palavras, escolher uma a uma como se escolhesse feijão. Escrever suas impressões, seu sentir, seu espanto perante um mundo em eterno movimento. Assim era seu ofício. Ofício de escritor.Às tardes eram, então, dedicadas à leitura, à pesquisa, sabedor que era de que não há somente inspiração, mas como costumava dizer: — eclosão, de que nada se cria sem técnica e disciplina, sem trabalho e persuasão. Como era lindo esse ritual, quase religioso. Uma verdadeira devoção. Dia após dia lá estava ele, um sujeito comum igual a tantos outros, e não um sonhador como muitos pensavam, um lunático. Apenas um homem que via na arte da escrita o verdadeiro sentido das coisas e dizia: — uma só vida, para mim, não basta eu preciso inventar, criar histórias. E nesse ato criativo sonhar, rir, chorar com os personagens, com toda trama em que me deleito. E, que meu leitor possa também se deleitar.  Uma catarse literária em que ambos vislumbrem a própria vida.

4 comentários:

Daniele S.F disse...

Você consegue captar a essência do oficio de escrever: Observar a tudo e a todos, depois "ruminar ideias, elaborar frases, jogar com as palavras, escolher uma a uma como se escolhesse feijão". E tudo isso com muita dedicação e técnica.
Gostei desse texto, parabéns pelo blog.
Saudações Literárias

sueli aduan disse...

Ô Daniele, fico muitooooooooooooo ,feliz com teu comentário.É gratificante querida.
suadações literárias

Marinês disse...

Amei o texto, mas "escolher uma a uma como se fosse feijão"...que beleza!
é isso que a faz uma grande escritora ver as metaforas e enxergar no corriqueiro: "poesia". Isso minha amiga definitivamente: é para poucos!

parabéns!

sueli aduan disse...

obrigadíssima,Marinês.
Teu lindo comentário me deixou pertinho das estrelas :o)

beijão