quinta-feira, 19 de maio de 2011

da série: Tenho um amigo que disse que eu


Tenho um parafuso a menos. Na hora fiquei tão feliz, mas tão feliz que abri aquele sorrisão. Ele até se assustou. Expliquei: — sempre tive comigo que eram muitos. Ele riu e disse que não, imagine. Isso é tudo da tua cabeça. Na hora fiquei séria, mas tão seria que franzi a testa. Ele até se assustou. Mas nem perdi tempo explicando. É claro que é da minha cabeça. Vai ser de quem? Se sou eu quem está dizendo. Amigo é amigo e a gente releva, mas cada um viu.

Já um outro amigo disse que não é nada disso. É que provavelmente eu pertença ao grupo dos DDA. Olhei-o dos pés à cabeça. Mas nem ousei sorrir, muito menos ficar séria. Fiquei entre indiferente e curiosa. Uma oscilação de sentimentos tomou conta de mim. Ele percebeu e com todo cuidado que lhe é peculiar começou a tecer algumas explicações. É médico e dos bons. Entregou-me uma folha com várias perguntas. Dias depois respondi e fiquei toda satisfeita. Iidentifiquei-me apenas com cinco das oitena e cinco. Iupiiiii gritei pra ele no telefone que gentilmente perguntou: — as cinco últimas, é? Não entendi bem esse “é”? Só depois de me orientar para algumas práticas relaxantes é que completou: — irremediavelmente uma DDA e em plena ascensão. Mas como sei que ele é também um grande brincalhão, relevei.

Já um outro amigo desses que chegam sorrateiramente, olhando lá no fundo dos olhos da gente, e devagarzinho começam a conversar como quem conta um conto, uma história de antigamente. Como quem fala do rio e a gente sente toda a umidade em volta, como quem fala das árvores e logo a gente se vê saboreando uma goiaba, um pêssgo ou uma fruta qualquer. Ou de um pássaro e a gente ganha asas. Delicadamente me disse que não é nem uma coisa nem outra. Não é falta de parafuso, ou DDA, ou TOC, ou o nome que se queira dar. Mas simplesmente um viver que não conhece outra forma a não ser a do sentir o que verdadeiramente sente. E, ainda por todos os poros, imensamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adoro a forma poética como você escreve... Me remete a saudades. Saudades de coisas boas...
Bjuss

sueli aduan disse...

Obrigada, Su Palanti.

É tão bom ler teu comentário,fico muitooooo feliz.

bjus