Na primeira parada deixou claro, feito à lua que iluminava aquelas viagens sem fim, que só é gente aquele que não careça de nada, que a tudo agradece ao nosso senhor Jesus Cristo e na dor enxerga a bondade divina. Sua voz doce é um canto de ninar aos ouvidos da mulher em que hoje me transformei. E trago comigo, como num cofre, cada uma dessas paradas.
Essa sempre foi a palavra de mãe:- descansar. Como se a gente pudesse tirar o cansaço do jeitinho que se tira um chinelo e deixa ao canto. Mãe acreditava nisso e dizia: — Ponhei meu zoio nu sem fim da mata e junto com o chero bão sinti um repio nu corpu. Não careçe de coisa mio não. Mas eu carecia. E o cansaço era só daquela vidinha mesmo. Eu gostava sim do cheiro do mato, da chuva e daquelas tarde de domingo, em que pai sentado na varanda contava histórias, e mãe sempre nos surpreendia com seus doces e manjares. A vida era assim tranqüila por demais.
E se tem coisa que trago desde minha meninice e o gosto pela aventura. Descobrir, conhecer, saber. Mãe nunca entendeu esse meu jeito, mas mulher amorosa que era sempre respeitou minhas escolhas. Em seu silêncio eu sentia carinho e aprovação, pois ela sabia: — a vida toda seria assim para mim. Na estrada, hoje, em meio às campânulas vermelhas, samambaias, avencas e o cheiro da terra molhada, sua imagem, seu canto doce seu silêncio misturaram-se as minhas alegrias.
Não careço de nada,por ora.
3 comentários:
Poxa Sueli com esta bela homenagem cheia de ternura e afeto,confesso um aperto no coração tamanha emoção.Claro que me joguei no texto,senti o cheiro de terra molhada,o sabor dos manjares,o perfume das flores nos caminhos.Sou do mato,sinto o cheiro dele até hoje.Que divina inspiração amiga,digna de um quadro,isto mesmo uma obra de arte,para ser admirada.
Um carinhoso abraço Sueli e lhe agradeço pelo espaço que me deu no ano para minhas escrinvinhações, o que me faz renovar o desejo de continuar em 2012 nesta sintonia.
Parabens amiga e que a inspiração esteja sempre à sua frente.
Beijo.
Ô meu amigo assim meu coração não resisti rs, brincadeirinha.
Amei seu comentário ,poeta que é de mão cheia, e só posso agradecer.
Morei no mato ( Apiai -dois anos) ,mas não com minha mãe ,uma senhora pra lá de urbana, rs .Ela sempre morou aqui Sorocaba. Eu que fiz umas andanças nesse mundão sem porteira. Gosto muito do mato...terra...cheiros.Outros tempos...
bjão
gratíssima.
É uma honra "tê-lo" no "Escritos", Toninhobira.
Com seus belissímos textos,um verdadeiro poeta e grande escritor.
abração
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