sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Para começo de conversa
( trechos do Ensaio- Carlito Azevedo)- Do Livro -Seletas: João Cabral de Melo Neto
Esqueça aquela imagem de poeta como um ser especial, uma personalidade fora do comum, cuja euforia ou sentimentalismo seriam expresssos em versos melodiosos, ritmos hipnóticos,vocabulário rebuscadíssimo e imagens oníricas.
O poeta, homem comum, falando a linguagem do homem comum e escrevendo sobre uma realidade comum a todos (e não sobre uma realidade ou irrealidade extraordinária que somente "o ser iluminado" teria acesso).
Esqueça também aquela idéia de que o poeta escreve sob o impacto de uma inspiração divina, idéia esta muitas vezes acompanhada pela imagem de uma "Musa", quase sempre alada, que sopra aos ouvidos do poeta os versos que ele vai anotando como se estivese em transe mediúnico.
O poeta prefere que o poema seja uma conquista árdua do trabalho rigoroso da atenção, do raciocínio., pois o poeta não é um ser alienado, e que em sua "infinita pureza" não pode ser maculada pela realidade social e histórica do mundo em que vive, que sua função é apenas celebrar as belezas da vida e a eternidade da arte.
O poeta fala da luta do homem pela sobrevivência, de touradas, de galinhas, asas de borboleta, de... poesia também, afinal ele sabe que para fazer a crítica da realidade é preciso, ao mesmo tempo, fazer a crítica do material com que se investiga a realidade, ou seja, a palavra.

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