Descartes professou a doutrina das idéias inatas; Etienne Bonnot de Condillac, para refutá-lo, imaginou uma estátua de mármore, organizada e conformada como o corpo de um homem, e residência de uma alma que nunca teria percebido ou pensado. Condillac começa por atribuir um só sentido à estátua: o olfativo, talvez o menos complexo de todos. Um cheiro de jasmim é o princípio da biografia da estátua; por um instante, haverá unicamente esse cheiro no universo, melhor dizendo, esse cheiro será o universo, que um instante depois, será cheiro de rosa, e depois de cravo. Que na consciência da estátua haja um cheiro único, e já teremos a atenção; que perdure um cheiro quando o estímulo tiver cessado e teremos a memória; que uma impressão atual e outra do passado ocupem a atenção da estátua e teremos a comparação; que a estátua perceba analogias e diferenças, e teremos o juízo; que a comparação e o juízo ocorram novamente, e teremos a reflexão; que uma lembrança agradável seja mais vívida que uma impressão desagradável, e teremos a imaginação. Engendradas as faculdades do entendimento, as da vontade surgirão depois: amor e ódio (atração e aversão), esperança e medo. A consciência de ter passado por diversos estados dará à noção abstrata de número; a de ser cheiro de cravo e de ter sido cheiro de jasmim, a noção do eu.
Em seguida o autor atribuirá a seu homem hipotético a audição, o paladar, a visão e por fim o tato.
Este último sentido lhe revelará que existe o espaço, e que no espaço ele estará num corpo; os sons, os cheiros e as cores, antes dessa etapa, haviam lhe parecido simples variações ou modificações de sua consciência.
domingo, 4 de janeiro de 2009
Um só sentido...
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