Guimarães Rosa lembra que "o livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber",ou seja, a leitura nos faz depararmo-nos com o que está para além do escrito/dito pelo sujeito. Há algo veiculado na palavra que não se reduz a ela, ou que, ainda mais, não se encontra nela e será retomado pelo leitor, o qual, a partir de sua posição subjetiva, fará dela uma sua palavra. Um provérbio francês testemunha que "a palavra pertence metade a quem fala e metade a quem ouve".
Clarice Lispector, sobre sua experiência ao escrever, diz que se trata de traduzir o desconhecido para uma língua que desconhece. A idéia de metade leva a valorizarmos o que Lispector introduz de incompletude no texto, remetendo ao desconhecido, que ainda assim é o móvel do trabalho com o texto.
Um trabalho que implica algo para além do que a palavra traz de informação se lançando além do que diz literalmente. É o ponto em que surpreendemos a oralidade permeando e, ainda mais, fazendo das palavras texto.
Fernando Pessoa fala dos contos herdados, prazeres que são nada, mas não queremos querer outros. Veiculando esse nada que são prazeres, Pessoa fala da metade desconhecida e inacessível que ainda assim persiste no poema, fazendo-se a voz do texto.
Lacan atesta que as pessoas têm necessidade de ler escritos que não compreendem e de ir onde se fala do que não se entende.
Para Manoel de Barros, é preciso não saber nada, é preciso entrar no estado de palavra para enxergar as coisas sem feitio que não foram recortadas, portanto, não existem - a sabedoria se tira das coisas que não existem, pois o que resta de grandeza são os desconheceres”.
É o poeta encontrando-se com a palavra sem feitio, que justamente por sua face de desconhecimento, só vem a ser texto através da articulação operada pela dimensão da oralidade.
Lacan afirma que há dois planos em toda produção em palavras.
Lacan afirma que há dois planos em toda produção em palavras.
Há o que se diz e o que se quer dizer, pois, separando o querer e o dizer, há a intenção.
recortes/pesquisa-sueliaduan
A disciplina de leitura: ritmo e oralidade na voz do texto.
Juliana de Miranda e Castro; Anna Carolina Lo Bianco.
7 comentários:
Falou bonito, difícil.
Gostei!
Beijos.
Ah!Lígia não é tão dífícil,não.
Eu costumo fazer assim: _ quando um texto "exige mais": leio, releio, releio... É só uma dica. Espero que goste.
Beijos
Então Su aproveitando o gancho daquele video da Adelia prado que me mandou... O que me importa é a beleza daquilo que se é dito. Não o que se diz e sim o como se diz... bjão flor...
É isso mesmo, Katia. A Adélia Prado também bebeu na mesma fonte, a saber, Lacan. Não poderia mesmo ser diferente.Pori ssso, tamanha sincronicidade no pensar.
bjaõ florzinha.
oi professora entrei no seu blog daniel
como por video professora
http://aproveiteaadolescencia.blogspot.com/ entre prof
Postar um comentário