terça-feira, 13 de março de 2012

da série: Fração de segundos

Eram nove horas, estava eu recostada em um banco da velha pracinha a ponto de desistir dessa busca incessante, quando deparei com aquele sujeito miúdo bem na minha frente e a encarar-me. A princípio pensei em se tratar de algum morador do bairro em sua caminhada noturna.  Mas não. Após duas ou três palavras ditas, com uma voz rouca, o sujeito foi logo se abrindo e eu soube que se tratava do zelador de um prédio pequeno na rua detrás. Não pensei duas vezes e à queima-roupa perguntei:  -você deve saber se há algum apartamento vazio por lá? Com uns olhos entre o desconfiado e a intimidação o sujeito também me respondeu de sopetão: - não há não.


Houve um silêncio sepulcral, fração de segundos, que me pareceram intermináveis.  E com uma voz mais rouca ainda disse:- O que há mesmo é o velho casarão, vazio há anos. Dei um pulo do banco e só faltei agarrar o sujeito pelo colarinho, mas poderia ser mal interpretada, e me contive, no momento não estava interessada em sexo e muito menos com um tipo daqueles. O que eu queria mesmo era um lugar sossegado e longe de todos, morar por um tempo até a poeira baixar como dizia meu pai. Conversa vai, conversa vem mais meia dúzia de palavras e o sujeito resolveu me levar para conhecer o casarão. 


Não era só o zelador do prédio, no caminho por ruelas escuras entre um susto e outro por conta dos muitos gatos, contou-me que era o único no bairro a ter uma cópia da chave e que durante todos esses anos a proprietária não apareceu mais. Suspeitava até de sua morte, mas era uma jovem senhora, quieta, andar vagaroso, sempre com livros nos braços, além de um chapéu preto que lhe dava um ar profundamente intrigante. Ao entrar no casarão um sentimento de pertencimento instalou-se dentro de mim, numa fração de segundos, veio-me à mente cenas vividas naquele espaço. Quando? Mas isso seria  apenas o começo de longas horas de inquietação.

2 comentários:

Toninho disse...

Linda esta fração de segundos em que a mente viaja e tras noticias de mundo que as vezes nem vivemos, mas que povoam todo o ar.Mas ficou uma pontinha de curiosidade.
Neste dia da poesia, venho lhe deixar um carinhoso abraço amiga e parabens por nos proporcionar viagens nas palavras.
Beijo.

sueli aduan disse...

grata, meu querido amigo.

Gosto muito dessa nova série um aprendizado pra mim e fico muito feliz com seus comentários.

É ficou sim, (pontinha de curiosidade) intencional. :o)

beijos, poeta.

GRATA.