Não me emendo mesmo. Na hora que ele disse, foi muito engraçado, pois me veio à mente um momento da minha infância, o qual minha mãe, sentada em uma banqueta, emendava retalhos, formando uma imensa colcha colorida. Era tão lindo de se ver; e eu, que ainda não sabia costurar, ficava horas e horas olhando todos aqueles quadradinhos. Ela pacientemente me explicava que pra ficar bonito, era preciso escolher com muito cuidado as junções, combiná-los entre si, cores claras em contraste com cores escuras, estampadinhos ao lado de tecidos lisos. Meu amigo percebeu que eu estava longe, em puro estado de recordação, e se calou.
Já outro amigo, nem bem o outro se calou, disse: - é verdade, você não se apruma nem de muleta mesmo, pelo jeito ele queria é me tirar do estado de devaneio em que eu me encontrava. E com essa fala, não só conseguiu como me remeteu a outro momento da minha vida, quando meu avô, após uma queda do cavalo, foi obrigado a usar muletas. Eu ficava horas e horas olhando o jeito dele caminhar. Ele pacientemente me explicava que era preciso caminhar com cuidado, sem pressa e com muita firmeza nas mãos. Esse amigo também percebeu minha ausência mental e, como é desses que gostam de atenção em tempo integral, foi saindo cabisbaixo. Eu até pensei em chamá-lo num gesto de bem querência.
Foi quando avistei meu grande amigo, amigo de todas as horas, que só de olhar em meus olhos percebeu que eu tinha estado longe. E estive sim; nas reminiscências da aprendizagem junto à minha mãe e ao meu avô que, sem saber, ensinaram-me que é preciso escolher, sejam quadradinhos ou não, se queremos algo que nos encha a alma com beleza e harmonia; e que seguir em frente é uma questão somente de calma e firmeza.
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