terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um outro olhar sobre o mundo


Faces da sifilização do ethos brasilienses
Sob aquela velha opinião formada sobre tudo...

O conceito de "folha" surge do fato de igualarmos todas as folhas. Acreditamos saber algo das coisas mesmas... e no entanto não possuímos nada mais do que metáforas das coisas, que de nenhum modo correspondem às entidades de origem.

O homem possui a faculdade de apreender a realidade e criar signos, estruturando-os em universos culturais e semiológicos. É capaz de dar sentido ao que carece de sentido, e também ao desconhecido. E o faz por meio da linguagem. Sem a projeção do homem, os fenômenos naturais existem apenas em estado amorfo. Em outras palavras, se não são recortados culturalmente pelo homem, permanecem desprovidos de sentido; não passam de uma abstração, sem limites de apreensibilidade. Se há limites, esses são dados pela formação do homem, cuja vida cotidiana está enraizada numa cultura e numa história as quais influenciam sua própria visão de mundo.
No início do século XX, disse F. Saussure aos discípulos: "é o ponto de vista que cria o objeto". Diante de um mesmo evento, as apreensões do objeto são diferentes e geralmente conflitantes entre si, podendo haver tantos pontos de vista, quantos forem os recortes do mundo. Se esses são limitados, resultam de limitações próprias à (de) formação do informador, ou da visão parcial de mundo dos recortes. Não é a realidade que muda, mas apenas o modo de observá-la, por isso os sistemas conceptuais variam de língua para língua, de acordo com o modo e visão de mundo diante da observação da realidade.
Assim, condicionada pela língua, nossa concepção de mundo é "apenas uma das muitas possíveis". A fonte de maior heresia seria, então, não reconhecer os limites de nossa visão de mundo, mutável e conflituosa, ignorando as contradições que lhe são inerentes, com a adoção "consensual" de uma única e parcial visão da floresta. Conforme alerta Luís Milanesi, o consenso rápido e o consenso duradouro são suspeitos.
De outro modo, para suprir os limites de uma equivocada leitura de mundo, é imperativo desconfiar de tudo. Além de simplesmente ordenar o caos informativo por meio de um rosário de técnicas, cumpre cultivar a dúvida e, sobretudo, desconfiar permanentemente da ordem, destruindo os "edifícios já construídos", revelando a força dos antagonismos em choque; eventuais males de origem que remetem ao mito fundador da Terra sem mal: “a verbiagem oca, inútil e vã, a retórica, ora técnica, ora pomposa, a erudição míope”, aparatos de saber fundados à custa de hierarquias e privilégios, ignorância e alienação, perpetuadas por quem decide o que convém saber. Neste mundo vasto mundo, "a visão da floresta é fundamental para compreender a folha"

Edson Santos Universidade de São Paulo/ biblioteconomia-
Outros artigos desse autor -http://www.ebah.com.br

Título da postagem- sueliaduan

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