terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Se eu não olhasse...

...se eu não tivesse do mundo a apreensão pelo olhar, só o aprendesse pelo tato, pelos ouvidos, pelo olfato, pelo gosto, se eu só o aprendesse assim, que noção eu teria, por exemplo, da manhã? O que seria a manhã, o amanhecer, o dia, e o entardecer, a noite? Que visão teria eu dessa realidade, se eu não apreendesse o mundo pelo olhar? A textura, a corporeidade das coisas, dos objetos, é diferente se eu apenas os tocar com os dedos. Mas quando eu olho, a riqueza que a minha percepção recebe do olhar é uma coisa incomparável com relação à que os outros sentidos me permitem aprender.
Então me parece que a construção do mundo humano deve muito ao fato de que o homem vê a realidade, de que ele aprende a realidade inclusive e principalmente pelo olhar. Ele é quase a base do conhecimento. Mas se o olhar tem essa importância, é verdade também que eu aprendo pelo olhar elementos que pertencem a outros sentidos, e os outros sentidos aprendem coisas que pertencem ao campo do olhar.
Por que é que eu digo “som agudo”? Agudo é uma impressão tátil. Ou “era um som áspero”. Áspero é tátil. “Era um som escuro”, escuro é visual .”Era uma voz doce ,é gustativo. F.Gullar
Merleau Ponty diz: “Os sentidos se traduzem uns aos outros sem precisar intérprete”.

2 comentários:

CajadOmatic disse...

Oi Su,
Me sinto um ser visual, nem posso imaginar não ver. Seria, citando de novo, a cegueira do saramago, um mundo que não vale a pena. Mas existem seres auditivos que não trocariam a audição por qquer outro sentido. Imagino se como naquele conto de Voltaire, Micromegas, (o primeiro conto de ficção que se tem noticia, que até foi proibido pela igreja), que seres de diferentes dimensões possam ter varios outros sentidos e que num dialogo viessen saber que outros seres vivem bem com apenas cinco. Me faz pensar.
abs

sueli aduan disse...

Sérgio:

Será que um dia chegaremos perto de Micrômegas, que compreende as perspectivas e que, mesmo com um brilhante intelecto, reconhece os limites do compreensível.

Esse diálogo me faz pensar...
Nietzsche...

não negar nossa condição mas...

abs