... Assim como a antiga cidade tinha configura um novo ambiente para o poeta, fazendo nascer à poesia lírica na Grécia Antiga, é outra vez a cidade que vem dar novos contornos ao modo como sujeito se relaciona com o mundo objetivo: agora, mais do que nunca, substitui aquela onipotência de um sujeito heróico, narrador do mundo e das peripécias dos homens, pela relatividade do mergulho na subjetividade.
Mas ao contrário do poeta romântico, que ainda acredita na poesia como expressão do “eu”, o poeta moderno sabe perfeitamente que qualquer recorte do mundo será apenas linguagem e não lhe é possível mais do que isso: o poeta moderno se vê projetado no mundo exterior, sabendo que desse mundo poderá apenas fazer uma tradução parcial.
A idéia de arte como fatura, que aparece nos textos de Edgar Alan Poe (“Filosofia da composição” e “O princípio poético”), foi fundamental para seu tradutor francês ─o pré-simbolista Baudelaire (1821-1867) ─,o primeiro poeta moderno a sistematizar o poema como relações entre sons, ritmos e imagens, como aparece no soneto:
Correspondências”, metaforicamente referidas à natureza:
como longos ecos que de longe se confundem
numa tenebrosa e profunda unidade,
vasta como a noite e a claridade,
os perfumes, as cores e os sons se correspondem.
Baudelaire é o poeta que reconhece a nova cidade e o homem das multidões: um texto crítico importante é o que escreveu sobre “O pintor da vida moderna”, onde incorpora a seus conceitos estéticos os dados dos novos tempos das metrópoles, abandonando o interesse pelo Belo absoluto para ater-se ao Belo Transitório. ‘Há na vida trivial, na metamorfose jornalística das coisas exteriores, um movimento rápido que ordena ao artista uma igual velocidade de execução’, diz ele.
Deixando de lado os grandes pintores como Delcacroix, Daumier, Coubert, escolhe um pintor menor, Constantin Guys, para falar do artista como homem do mundo, homem das multidões. Citando um pequeno diálogo que teve com Delacroix, acerca da predisposição curiosa em observar o novo ─ seja ele rosto ou paisagem, luz,,cores ou roupas ─, acaba caracterizando a modernidade como uma capacidade para extrair o “eterno do transitório”. Apontando os rumos da pintura, Baudelaire preconiza o impressionismo e afirma que a modernidade está também no próprio código usado pelo artista.
Tanto em Poe como em Baudelaire a poesia associa-se à inteligência crítica. Mas modernidade para Baudelaire é ainda mais: é também a possibilidade de transformar em poético tudo aquilo de artificial, grotesco e feio que a grande cidade pode oferecer ao artista ─ o caminho para uma “estética do feio”.
O lirismo moderno
Salete de Almeida Cara
pesquisa /sueliaduan
5 comentários:
Bacana.
Ainda hoje há quem só conheça a poesia romantica, me deparo muito com isso. Mas vejo como uma linguagem de um todo. De uma nova visão para tudo.
bjão
Bacana mesmo,muito!:o)
É que as pessoas têm uma visão equivocada em relação a poesia. A maioria acredita que basta sentimento e inspiração.
bjão
Oi gostaria que conhecesse o meu blog sobre a minha jornada pessoal e a síndrome do pânico, desde já agradeço a visita.
Oi SMM ,conheci e gostei muito. Já estou seguindo.
Obrigada pela visita.
forte abraço
Obrigada pela dica: assim que tiver um tempinho vou ler ,sim.
Entrei no site!
abs
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