Era um sujeito de poucas palavras. Desses que encontramos raramente e quando isso se dá, penso eu, que só nos cabe o silêncio, o muito pensar. Não posso dizer que não fiquei intrigada quando dirigiu-se a mim lentamente e quase num sussurro perguntou-me se podia fazer-lhe a gentileza de digitar uma carta. O pedido me deixou sem ação, ele percebeu e com um sorriso largo foi logo se explicando. Machuquei ontem a mão, brincando com um bichinho que emitia um som: miau, miau, disse e sorriu. Diante do inusitado do relato também sorri. Sorrimos. O que poderia eu responder? O que faria qualquer pessoa em meu lugar, diante de um homem sensível, apreciador de gatos, a não ser de pronto aceitar simples incumbência. E foi o que fiz. Foi quando percebi certo tremor em seu corpo e um brilho no olhar que jamais me esqueci. Estranhamente o seu olhar voltou-se para o céu estrelado, a lua indo alto, e a primeira frase da carta ditada pausadamente. Estou voltando e levo comigo um miau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário