Derrepente percebeu que não fazia o menor sentido continuar. Estava exausto e com toda certeza aquela não era a rua. Como pudera se enganar tanto? Bastou esse pensamento e, numa seqüência doentia, muitos outros afloraram: - não era esse o melhor sapato a usar. Não era esse.... Não era essa... Não era aquela... Até que se deu conta de que não era doentia essa sua forma de viver, ao contrário, justamente ao abrir esse leque de possibilidades uma nova sensação surgia. Era ele um sujeito privilegiado, divagar sempre o entusiasmava e mesmo diante do cansaço sentia-se revigorado rapidamente. Foi com esse pensamento que avistou no finalzinho da rua a casa. Não tinha dúvidas. O vaso na entrada com campânulas roxas, as preferidas dela, o portão azul recém pintado. E tudo à sua volta a lembrar-lhe outros tempos. Ah! Sempre o tempo, senhor absoluto, cobrador implacável. Com o pensamento já apaziguado resolveu tocar a campainha, mas não foi preciso. O acaso se fez presente e lá estava ela um pouco mais envelhecida também, mas não menos bela, descendo as escadas com o mesmo andar firme e decidido. E, assim de sopetão entre sorrisos, com os olhos marejados de lágrimas e com uma voz trêmula disse-lhe:-.Houve tempo — sim, houve em que me fiz duro e ameacei que não voltaria mais. Voltei. Podemos agora subir no palco dessa cidadezinha adorável e concretizar nosso velho sonho e um bom rock tocar. O que se ouviu naquela noite foi um som ensandecido de guitarra no ar.
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