IV capítulo
Final
Era toda terra
Na volta para casa não pode deixar de olhar mais uma vez para o riacho, e emocionar-se com os pedaços de gelo sob a superfície formando uma espécie de manto branco. Derrepente teve a leve sensação de já ter vivido esse momento. Observava um outro rio com águas mais escuras, e não estava só , ao seu lado um jovem trajando um paleto cinza e uma boina vermelha seguia. Gesticulava muito, apontava o dedo para o alto e, às vezes, gargalhava. Essa imagem a impressionou tanto a ponto de molhar os pés nos riacho como forma de saber-se presente, de que não estava a sonhar. Ao sentir a água gelada foi tomada por uma imensa alegria nunca sentida antes . E rindo correu pelos campos feito uma menininha feliz ao encontro do pai. O pai que sempre esteve ausente, que nunca sorria , que sempre reclamava.
Liu por um breve momento esqueceu-se de tudo, da vida difícil que levava ,do cesto de frutos,das mãos de sua mãe, da colina e de todo o resto. Só queria sentir a vida fluindo ao seu redor. A aldeia viva que tanto desprezava agora pulsava dentro do seu coração. Ela era toda terra, flores, umidade e riacho.
E foi envolta numa espécie de nuvem que avistou o pai. De longe pode perceber que ele conversava com um jovem. E para seu espanto ele trajava um paleto cinza e uma boina vermelha. Gesticulava muito, e junto com seu pai apontava o dedo para o alto, ambos gargalhavam.
Liu sentiu o coração disparado, a boca seca, as pernas trêmulas e já não havia necessidade de explicar nada. Tudo estava claro como o branco do gelo cobrindo o rio.
Silêncio e morte entrecortados pelos muitos risos do homenzinho de boina vermelha.
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