terça-feira, 3 de novembro de 2009

A SIERGUÉI IESSIÊNIN

(é assim que se honra um poeta?)-

Você partiu, como se diz, para o outro mundo.
Vácuo. . .Você sobe, entremeado às estrelas.
Nem álcool, nem moedas.
Sóbrio. Vôo sem fundo.
Não, lessiênin, não posso fazer troça, -
Na boca uma lasca amarga não à mofa.
Olho - sangue nas mãos frouxas,
você sacode o invólucro dos ossos.
Sim, se você tivesse um patrono no posto (1)
Ganharia um conteúdo bem diverso:
todo dia uma quota de cem versos,
longos e lerdos,como Dorônin(2).
Remédio? Para mim, despautério:
mais cedo ainda você estaria nessa corda.
Melhor morrer de vodca que de tédio!
Não revelam as razões desse impulso
nem o nó, nem a navalha aberta.
Pare basta! Você perdeu o senso? -
Deixar que a cal morta lhe cubra o rosto?
Você, com todo esse talento para o impossível; hábil como poucos.
Por quê? Para quê?
Perplexidade.
- É o vinho!
- a crítica esbraveja.
Tese: refratário à sociedade.
Corolário: muito vinho e cerveja.
Sim, se você trocasse a boêmia pela classe;
A classe agiria em você, e lhe daria um norte.
E a classe por acaso mata a sede com xarope?
Ela sabe beber
..............................................................
...................
Agora para sempre tua boca está cerrada.
Difícil e inútil excogitar enigmas.
O povo, o inventa-línguas,
perdeu o canoro contramestre de noitadas.
E levam versos velhos ao velório,
Sucata de extintas exéquias.
Rimas gastas empalam os despojos, -
é assim que se honra um poeta?
-Não te ergueram ainda um monumento -
onde o som do bronze ou o grave granito? -
E já vão empilhando no jazigo
dedicatórias e ex-votos: excremento.
Teu nome escorrido no muco,
..........................

Por enquanto há escória de sobra.
0 tempo é escasso -
mãos à obra.
Primeiro é preciso transformar a vida,
para cantá-la -em seguida.
Os tempos estão duros para o artista:
Mas, dizei-me, anêmicos e anões,
os grandes, onde, em que ocasião,
escolheram uma estrada batida?
General da força humana-
Verbo - marche!

Que o tempo cuspa balas para trás,
e o vento no passado só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo o planeta está imaturo.
É preciso arrancar alegria ao futuro.
Nesta vida morrer não é difícil.
O difícil é a vida e seu ofício.


Vladimir Maiakovski- Tradução de Haroldo de Campos

1. Alusão à revista Na Postu (De Sentinela), órgão da RAPP (Associação Russa dos Escritores Proletários), cujos colaboradores se mostravam muito zelosos em atacar os escritores que lhes pareciam transgredir a moral proletária.

2. Referências ao poeta soviético I.I. Dorônin .

4 comentários:

cristinasiqueira disse...

Oi Sueli,
Estou onde deveria estar.Ouço a trilha sonora do filme Os falsários.
Um tango rasgado que deixa meu coração em farrapos.E por aqui este estupendo poema.
Li ,reli,bebi água.
Assim é estar viva! de madrugada.
Ainda não consegui te encontrar.
Quem sabe neste fim de semana.
Beijos,

Cris

Adoro seus posts.
Apareça...

sueli aduan disse...

É maravilhoso mesmo!!!!,mas optei por não colocar "inteiro",triste...
Que bom que gosta dos posts!!

Vou aguardar seu telefonema;enviei um convite pra vc, pra tb ser "autor" lá no tempus será que envei e-mail errado.kkkk Enviarei novamente.
bjus
a tempo: adorei "...estar viva de madrugada"

Toni D'Agostinho disse...

Tem 50 Razões Para Rir pra todo mundo!!!!

Parabéns pelo post - adoro Maiakovski. Adoro também Haroldo de Campos.

Beijão!

sueli aduan disse...

Ótimo!!!pq coloquei "a chamada" no twitter.(vai que a moçada queira... sou "turca",heim! (rs)

sueliaduan twitter

(tb gosto muitooo dos dois)

beijão