quarta-feira, 9 de junho de 2010

da série: Tenho um amigo que disse que eu:


Não deveria fazer essa cara de “pôxa vida” sempre que estou triste. Tentei explicar que ele estava totalmente equivocado, não estava triste, não. E que jamais passa pela minha cabeça fazer caras e bocas. E, se estava me vendo assim, era fruto da sua própria imaginação, ou então ele mesmo é quem faz uso desses artifícios para chamar a atenção. Não tive nem tempo de completar a frase, quando dei por mim, tinha desaparecido. Vai ver ficou bravo. E o que eu posso fazer se é a mais pura verdade. Meu olhar e o formato da minha boca passam mesmo essa impressão, o da tristeza. Um quê de melancolia.
Já um outro amigo riu muito ao saber dessa história e me aconselhou a usar lápis para contornar os olhos e um bom batom vermelho. Esse recurso, disse-me, daria um brilho todo especial ao meu rosto. E eu lá quero ter um brilho que não seja o meu mesmo? Não que eu não use maquiagem. Uso, claro, sou vaidosa sim. Mas com a intenção de brilhar? Por favor.
Essas coisas vêm de dentro mesmo, falamos em uníssono, eu e outro amigo que adentrava todo feliz na conversa. E foi logo completando: minha cara, esse teu ar de melancolia é você por inteiro, como o meu é esse ar de bonachão. O que seria de nós se não fosse essa singularidade. É verdade mesmo. Numa fração de segundo revi rostos de pessoas que mal conheço e constatei o quanto nos enganamos ao julgar um olhar, um sorriso, um rosto mais tenso, uma ruga, um andar, um falar.
Já um outro amigo, amigo de cabeceira, mas nem por isso distante, com seus belos textos me ensina que é impossível mesmo nossas expressões faciais, corporais, atestarem todo o sentir. Que não nos apercebemos nem da tristeza, nem da alegria que vai dentro de cada um. Porque tudo é muito dentro, no recôndito do ser. E mesmo as palavras ditas chegam-nos de tal maneira que somos sempre remetidos a nós mesmos e a nossa visão de mundo.
Na hora me deu um vazio e até fiz uma cara de “pôxa vida”, mas seus ensinamentos, frase a frase, página a página, falaram mais alto. Nada há a fazer. É da vida, é do homem, e nisso reside toda a beleza.

7 comentários:

Katia em anexo disse...

Então... é realmente uma incógnita... o meu caso é diferente, exato contrário. É de espantar as pessoas se eu me sentir triste, "Ah..., não consigo nem imaginar..." será que tenho o sorriso estampado na cara?
Gostei desse seu amigo de cabeceira... e aí é bonito? Livre? Me apresenta? kk
bjs

sueli aduan disse...

kkkk É uma ficção,heim! Faz parte do ato de criar,do muito imaginar..
(sabe disso, né?)
Não que eu tb não tenha essa ar, alías, acho que todos temos somos múltiplos no sentir. Demonstrar depende da liberdade e do controle de cada um.:o)

Meu amigo de cabeceira, é livre sim, e muito,quanto a beleza...Hum!em vida deve ter sido lindo kkkk.
É filosófo:-Gilles Deleuze.
A imagem que está no meu blog(no Oficina de Literatura on-line) é da capa de um de seus livro :-“Mil Platôs”
Ele é sempre um desafio,por conta disso coloquei lá.Confira!!!
bjãooooo

Anônimo disse...

gostei muito desse seu texto, Sueli. cria tantas possibilidades, principalmente a da reflexão sobre as imagens, mas também a da criação. muito bom. ;)

Beijo
G

sueli aduan disse...

Obrigadíssima,Geraldo
Fico muito, muito feliz que gostou.

Busco um viés da reflexão,do questionamento, a meu ver, fundamental.

Leia os outros da série estão aí nas páginas do blog :o)
Beijo

sueli aduan disse...

Olá Elenilson, mas como? Perdemos o contato. É só me enviar que divulgo com o maior prazer.
abs

Anônimo disse...

cada um é cada um, não é mesmo?? Seja na maneira de viver, seja na maneira de sentir, seja na maneira de expressar este sentir...e até na maneira de esconder este sentir...o que é mais do que uma opcão, é o próprio ser e estar no mundo...o que faz com que cada um seja único e por isso essencialmente belo.
...amo a serie "Tenho um amigo que disse que eu"...beijuuuuuu

sueli aduan disse...

Fico muito feliz que goste da série :o)
Adorei o que escreveu:- perfeito!
bjus